quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Brazil


Brazileiros e brazileiras

(no ônibus:) – Brazil? Carnaval!
(no mercado:) – Brazil? Laranjas! Aqui nós vendemos laranjas brasileiras!
(na loja de roupas:) – Nossos óculos são de marcas brasileiras! (ah, claro. Aqueles de 10 reais em qualquer camelô.)
(no trabalho:) – Vi na TV que as mulheres mais sexy do mundo são as brasileiras.
(em casa:) – Clarice! Evita falar pela rua que é brasileira...

Cuma?
(companheira de trabalho:) -- Adoraria aprender a falar brasileiro!
(pela rua:) – Voce é Brasileira? E aí, como vão as coisas na capital, Bogotá?
(dono de lanchonete:) – Só vou te contratar porque você veio da Costa Rica.
Só pra constar: recusei o trabalho.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Tá nos EUA, abraça o Ronald!



Depois de tentar um segundo trabalho em livrarias, restaurantes finos, restaurantes mais ou menos, apelei: Me inscrevi para o Mc Donald's. Quero ser uma Mc escrava feliz!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Então chegou

Escapei do nosso querido então é natal pra ouvir dingo bel. Desde o meu primeiro dia, entra loja sai loja, só o que ouço são os sininhos. Ah, que romântico o natal dos Estados Unidos! Luzinhas a piscar em todas as casas, árvores de natal em cada esquina, pessoas de gorro vermelho, carro com guirlanda e laço de fita, cachorro com chifre de rena, homem com chifre de rena. Mas nada marca mais que o tal do Dingo Bel. Tem pra todos os ritmos, em todos os tons, com todas as vozes. Vinte vozes de coral entoam na calçada. Na estação do ônibus é essa a canção que o policial assovia cinco vezes seguidas. No restaurante a trilha sonora é essa. A música que fica na cabeça não pode ser diferente.
Ê delícia. No meu natal não tem nem árvore de algodão. Nada de presentinho, de abraço coletivo, nem papai nem mamãe Noel, nada de arroz com passas, farofa. Sem rabanada. Peru então... Nem frango assado tem.
Ah, mas tenho o nosso querido dingo bel. Quem precisa de mais ?
E quando me perguntam se eu estou preparada para o tal do Xmas, eu só digo que não porque não de cor a letra.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Tempestade

Cheguei, comi, bebi. Ao trabalho!
Botar toalhas, lustrar talheres, enrolar talheres, botar talheres. Tem garçom falando comigo. Qual o nome desse mesmo? Não tenho a mínima idéia. --Anna, o que eu faço agora? – Dobra esses papéis em quatro. Dobrar trinta folhas de papel. –E agora? -- Dobra os guardanapos de pano. Quarenta guardanapos. – Amiga, você tem que ver quando as mesas estão sujas para limpar. Okei, okei. Olhar mesas. Quando eu sei se a criatura terminou de comer? Droga! Eles terminaram e eu não percebi! O garçom limpou antes de mim! --Ei, será que você pode chamar o Tom pra mim? Iiiih quem é esse? E qual o nome: Tom, Tod ou Tor? Malditos nomes em inglês! – Ei Tó, tão te chamando lá! – Clarice, sirva água pra quem quiser. Aaai que jarro pesado. Ninguém quer água e eu to segurando isso que nem uma idiota. Ih, o pessoal daquela mesa acabou! Corre pra limpar. -- A bandeja é sua amiga. A bandeja é minha amiga. Gente, que coisa pesada! Corre pra cozinha, abre a porta, joga os restos no lixo, bota os pratos no escorredor. A Anna ta fofocando e olhando pra mim. Cubana falando mal da companheira de trabalho é sacanagem. Fim da festinha do filho do dono do restaurante nos fundos. – Ei, você pode limpar a sala? Sorri, Clarice, sorri. –Claro! Quanta pizza! – Você pode jogar essas fora. Quê??? Jogar pizza fora? Deuses! São dez pizzas indo pro lixo! Ai, ta pesada a bandeja! Não vou aguentaaar. Tenho que voltar para a frente do restaurante. Corre! – Posso recolher? Taças de cristal sobre a bandeja. Corre pra cozinha morrendo de medo de derrubar. Tem sujeira no chão. Abaixar com a bandeja com taças de cristal, uma xícara e um prato na mão. Vamos lá, eu consigo. Ê! Um agachamento sem prejuízos. Corre de volta! –Posso recolher? – Você pode botar em uma caixa? – Claro! Caixa, onde fica? Ah, achei! --Tome aqui, moça. Não me ignora! --Ta aqui a caixa. Eeei, olha pra mim. Garota mimada! Não olhou. Volta pra frente, Clarice. Mesas sujas? Ih, ta acabando os garfos. Tem que lustrar mais. Pegar garfos. O pai da menina mimada ta brigando com ela! –Vai lá e dá a gorjeta a ela agora! Será que é pra mim? Mimada! Não obedeceu. – As senhoras acabaram? –Sim, pode recolher. Mas o prato ta cheio! Mais comida pro lixo. Ai, meus braços doem. Preciso treinar a bandeja com a mão direita, senão só o lado esquerdo vai ficar forte. Corre de um lado pro outro, tira mesa, bota mesa. –Ei, moça, você sabe o que temos de sobremesa? – Vou pegar o menu. É que esse é o meu segundo dia. – Ah, você esta indo muito bem! Que alegria! Preciso sentar! Minhas pernas doem, meu braço esquerdo também. Ih, o movimento ta diminuído, vamos fechar! Ai, que bom. Desarruma tudo, tira mesa. Levanta mesa, sobe escada com mesa. Que treco pesado!
Eu: -- Dia ocupado, não? To cansada.
Tóó: -- Ocupado? Isso aqui hoje tá morto. Amanhã movimenta mais, mas bom mesmo fica a partir de janeiro.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Já comeu, já bebeu…


Primeiro dia de trabalho na tal da loja da garrafa.
Chegando lá, comida de graça! Macarrão com frutos do mar. Camarão e tudo.
E segundo o cozinheiro, em caso de fome, é só pedir que ele prepara uma coisinha.
Minha função é imprescindível: botar mesa, esperar o povo comer. Tirar mesa e botar mesa de novo. Seis horas seguidas fazendo isso.
Não tem cliente? Bate papo. Bom pra botar o ingles pra funcionar.
Nada pra fazer? Bebe refrigerante. A fonte inesgotável é liberada pra funcionários.
Restaurante vazio a noite toda. Pessoal em treinamento tem salário/hora mais alto, mas não tem gorjeta.
Com casa sem movimento eu to querendo mais é treinar muito.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Do you feel like a chain store?

Ê lugar pra ter coisa igual:
Ando na rua e parece que vejo as mesmas pessoas. Eu acho que são uns cinco tipos que se alternam. E todos me cumprimentam!
Só não tenho certeza de ter dito oi pro Sean Penn duas vezes e pra Nicole Kidman uma porque Florida é lugar de perdedor.

E as casas? Laís, a pernambucana que mora comigo entrou na casa do vizinho no primeiro dia!
Todas estilinho filme, aquele jardim, garagem, varandinha, chaminé. O mesmo tamanho, a mesma cor.

Ontem eu andei umas duas horas na rua errada. Acabei de consultar o mapa: Foram mais de 4 quilometros errando.
Onde é que já se viu duas avenidas paralelas com o mesmo nome? Tentando pegar as transversais também me sentia dando voltas, vendo sempre repetições.

As lojas não mudam:
Procurando trabalho, entrei em uma livraria. Perguntei se estavam contratando, aquela coisa de sempre. O balconista disse que sim, e perguntou se eu já havia ido lá outra vez. Eu disse que não.
Peguei o formulário para a vaga, preenchi e entreguei. Só depois de sair eu percebo:
Me inscrevi dois dias seguidos para a mesma loja.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Americanoidades



É so clicar na foto para aumentar.

Comida quente


Três da tarde, hora de almoçar.
Preparo o apetitoso (e levemente apimentado) macarrão com almôndegas em lata e vou ler.
Sei lá quanto tempo depois, sou interrompida por um alarme estridente.
Fui até a porta, para ver se era alguem. Ninguem; Olho pro celular, não é; Pelos quartos nada. To ao ponto de achar que tem uma bomba pra espantar a terrorista latina quando vejo que a fonte do barulho é o alarme de incêndio.
Ai, nesse lugar a comida não pode nem tostar um pouquinho que já vão espalhar pros vizinhos.

Latino nao tem direito a se dar bem.

I: Pet shop girl
Na busca por trabalho, começa a apelação:
Fui procurar trabalho em uma Pet Shop. Mas só porque o nome era Petropolis.
Conversa vai, conversa vem, a pergunta inesperada:
-- Voce tem animal de estimação?
-- Não, senhor. Mas eu adoro bichos!
Mais conversas, o duplamente inesperado:
-- É, Clarice, gostei de você. Eu gosto de trabalhar com pessoas espertas. Quando sua documentação para trabalho estiver certa, volta aqui que nós conversamos melhor!

E agora?

II: Malandro é malandro
Fui preencher uma das sete mil applications pra trabalho.
Sozinha numa sala do bar, vejo o dono sair em disparada em direção ao meu concorrente de vaga from Argentina, berrando absurdos:
-- Que p**** é essa que você ta fazendo aqui, seu ********. Sai daqui agora, *******! Voce quer ser preso?

O homem tinha bebido meio copo de água do estabelecimento.

Americanidades

A casa é enorme. Tem aquecedor que esfria, banheira e triturador na pia!

Andando na rua, me senti em Rio Bonito: Todo mundo se cumprimenta.
Entra-se nas lojas e já vem uma criatura mostrando até o ciso: “Como você está hoje???”
A regra é responder e perguntar com um sorriso maior: “Como você está?”
Dizer só “e você?” é falta de educação.

Dói multiplicar todos os preços por 2,50. Sorvete? Três dólares e cinqüenta! (E o sorriso.)

A primeira cena que vi em territorio americano foi uma batida de carros. Os dois saem, apertam
as mãos, sorriem, voltam para os veículos e seguem viagem.

Carro do corpo de bombeiros faz todos os que estão à frente dobrarem a primeira esquina para sair do caminho.

Na biblioteca, sabe-se lá por que, um homem é algemado e sai carregado pelo guarda.
Não deu pra ver se esse estava rindo.

Doce lar (?)

Chegando em casa, cansada de campo campo, rio rio e palmeiras, toco a campainha do sugestivo um-sete-um. Ninguem responde.
Com pés que não cabiam mais no sapato e que fariam Lê ter patinhas de Lady, fico descalça.
Olho pras unhas. Nada pra fazer? Eu vou é ter meu dia de princesa. Onde? Na escada de frente para a rua.
Praticamente em casa.
Até olhar para o jardim e ver três esquilos.
E ouvir do andar de baixo uma voz de mulher a gritar:
-- OOOUCH! Don`t biite!'

yeah, welcome to America!

Pré Conceitos

No avião. Tres simpáticos meninos do rio conversando:
-- Onde é que você vai trabalhar?
-- No melhor lugar.
-- Qual a sua função?
-- A melhor de todas.
...
-- Dá pra ficar bêbado por cem reais na Baronetti!
-- Jura? Só com isso?


Clarice e o cara ao lado, na chegada:
-- Ai, ta escuro ainda, queria que já tivesse amanhecido.
-- Por que?
-- Não queria pegar ônibus a noite sozinha em frente ao aeroporto.
(o cara ao lado fala pro cara ao lado): -- Olha ela, ta em Miami pensando que é o Rio! Aqui não é que nem lá, menina.


No aeroporto, a primeira frase em inglês terminava com o quê?
Sweeeeetie.


Cinco horas de ônibus. Ao meio dia, o motorista avisa que vai parar para o almoço. Burger king de um lado; pizza hut do outro; Mc Donalds em frente. O homem continua a frase: Essa é a cidade de Punta Gorda. Voltamos em meia hora.
Eu hein.
Fiquei sem comer.